A tensão entre os que temem uma nova onda de coronavírus na Europa e os que não suportam mais restrições e querem voltar à vida normal ficou evidente nesta quinta (1ª), em anúncios de diferentes entidades e medidas que apontam para direções conflitantes.
A seção europeia da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou que o número de novos casos de coronavírus subiu pela primeira vez após 11 semanas consecutivas de queda.
Mas, no mesmo dia em que o diretor regional, Hans Kluge, pediu cautela com o "aumento da mistura, viagens, encontros e diminuição das restrições sociais", passou a valer na União Europeia o certificado digital, que visa facilitar viagens entre os países do bloco.
Discutido desde março pelos 27 membros da UE, o documento deveria abrir as fronteiras internas para todos os cidadãos europeus que cumprirem as condições sanitárias — vacinação completa, recuperação de Covid-19 ou teste negativo para Sars-Cov-2. Mas já começou com exceção e debates.
A Alemanha proíbe a entrada de qualquer um que venha de Portugal, por causa da prevalência da variante delta no país mediterrâneo. A presença de mutantes do coronavírus é um dos "freios de segurança" previstos, mas, segundo a Comissão Europeia, barrar totalmente a entrada extrapola o combinado.
Duas vezes mais contagiosa que o coronavírus original, segundo estimativas, a variante delta já foi detectada em 33 dos 53 países acompanhados pela OMS-Europa e é de fato um dos fatores que pode explicar a virada na média de novos casos.
Em Portugal, por exemplo, a alta de infecções se seguiu à chegada da delta, a partir do momento em que suas portas foram abertas a turistas britânicos, em meados de maio.
O Reino Unido, primeiro país europeu a ser atingido pela linhagem identificada na Índia, não faz parte da lista branca de países dos quais é possível viajar para o bloco justamente por causa desse mutante.
Após pressão e bronca pública da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, o governo português voltou atrás e passou a exigir quarentena de 14 dias para britânicos não vacinados.
Espanha e Grécia, porém, continuam aceitando a entrada com um teste negativo para coronavírus, e podem enfrentar problemas no bloco se a variante delta também crescer rapidamente por lá.
As viagens de férias vão muito provavelmente aumentar a transmissão do coronavírus, segundo a OMS, principalmente enquanto uma parcela grande das populações ainda não está completamente vacinada. No Reino Unido, que liderou a imunização na Europa, 49% da população recebeu todas as doses necessárias até esta quinta. Na Bélgica, o mais avançado pais da UE, são 35%.
O cálculo dos governos para retirar restrições passa pelo fato de que os mais idosos –cuja vida corre mais risco com a Covid-19– foram praticamente todos vacinados, e os imunizantes se comprovaram capazes de proteger contra hospitalização e morte, o que reduz a pressão sobre os sistemas de saúde.
Fonte: Click PB/Foto: Reprodução/Charles Platiau/Reuters